27 de Abril de 2024

Barra: violência crescente preocupa população

Um homem suspeito de envolvimento na morte de Uziel Silva da Hora, de 39 anos, cujo corpo foi encontrado em um isopor no Porto da Barra, foi preso na manhã desta segunda-feira (31), no mesmo bairro.

Segundo a Polícia Civil, a investigação aponta que o crime tem relação com tráfico de drogas. "Apuramos que a vítima, moradora do Calabar, foi morta dentro de uma residência na Barra e o corpo foi colocado na lixeira, no Porto”, diz a titular da 1ª Delegacia de Homicídios (DH/Atlântico), delegada Zaira Pimentel.O suspeito foi ouvido no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), informou a polícia.

“Equipes estão em campo para identificar e localizar outros envolvidos na morte de Uziel, que já tinha passagens por furto, roubo e receptação”, acrescentou a delegada.

Após o crime bárbaro, comerciantes e trabalhadores afirmam se sentir inseguros com a violência, mas nem o movimento de pessoas nem o funcionamento do comércio foram afetados nesta segunda-feira (31).

De acordo com Danilo*, garçom de um dos bares da região, o movimento de pessoas na Barra foi dentro do esperado para um primeiro dia útil da semana, porque a maioria dos frequentadores são turistas e, os que não são, reconhecem que a violência virou rotina.

“Os turistas vêm uma vez e não ficam sabendo. Por outro lado, os que moram em Salvador já estão calejados ou, assim como eu, fingem não ver para conseguir seguir a vida. Aqui está perigoso, mas preferimos não falar para evitar retaliações, porque são pessoas que estão sempre circulando por aqui”, contou o trabalhador.

O policiamento foi reforçado na Barra depois do ocorrido. À tarde, havia pelo menos três bases móveis da Polícia Militar (PM-Ba) e policiais civis distribuídos entre o Porto e o Barravento. No entanto, segundo a vendedora ambulante Cláudia*, o reforço dura pouco e não inibe a ação dos bandidos por muito tempo.

“Tem policiais aqui o ano todo, mas eles ficam dispersos e somem a noite. Quando acontece esse tipo de coisa o número aumenta, mas até o final da semana volta ao normal. Por isso que não adianta nada. A gente sai com medo de não voltar. Fico olhando para um lado e para o outro para saber a hora certa de correr, mas não dá para deixar de trabalhar”, afirmou a vendedora.

Para Joana*, que corria na Barra com mais dois amigos, o medo de circular no Porto é parte da rotina, por isso, ela prefere se exercitar durante o dia. “Se a gente deixar de passear, nos privamos por causa da insegurança. Então a gente sai, mas sai de manhã e sem celular, para evitar assaltos e tiroteios, como estamos vendo ultimamente”.

De acordo com o Instituto Fogo Cruzado, que monitora a violência armada em Salvador e Região Metropolitana (RMS), a Barra registrou, até a última sexta-feira (28), quatro tiroteios, dois mortos e dois feridos em 2023. Em levantamento da reportagem, porém, pelo menos seis casos graves foram registrados no bairro neste ano.

Histórico de crimes

O homem que foi encontrado morto dentro de um isopor no Porto da Barra foi filmado andando de bicicleta no bairro, antes do crime acontecer por câmeras de segurança, de acordo com a delegada Zaira Pimentel, responsável pela investigação do crime. A vítima tinha passagens por furto, roubo e receptação.

O homem foi assassinado em uma residência localizada em uma travessa da Barra, que não teve o nome divulgado pela delegada, para evitar situações de vandalismo, por exemplo. O corpo descartado entre o Forte de Santa Maria e o Farol da Barra, na calçada de pedestres, perto de um quiosque de água de coco, com sinais de violência e marcas de disparos de arma de fogo. "A vítima foi morta em um local, e o corpo foi descartado em outro", informou a delegada, ressaltando que o artifício foi usado para dificultar a investigação e elucidação do crime.

*Os nomes das fontes foram preservados a pedido delas.

Polícia investiga ligação de vítima com o tráfico

A delegada Zaira Pimentel não confirma a relação do homicídio com o conflito entre grupos criminosos. "Ainda está muito cedo para falarmos se foi tráfico ou não", disse.

De acordo com a delegada, já foram realizadas as oitivas dos familiares e a análise da vida pregressa da vítima.

A responsável pela investigação afirmou que 89% dos casos de homicídios em Salvador têm relação, direta ou indireta, com o tráfico de drogas. "Não tenho como pontuar se esse caso possui relação com o tráfico, porque a investigação está muito 'verde". Questionada sobre as facções que disputam território na região do Porto da Barra, a delegada preferiu não citar denominações, para que esses grupos não sejam "prestigiados".

Em contrapartida, um homem, que dorme nas imediações do Porto, afirmou que o homicídio aconteceu por disputa de território. "Todo mundo vê e pensa que é morador de rua brigando, mas aqui não está tendo isso. Esse cara não vivia na rua, na certa alguém de outra facção deu de cara com ele, matou e colocou aí. Só não deve ter colocado no lixo porque não coube o corpo dele", afirmou, sem querer se identificar.

Quem mora na Barra também não sabe informar quais grupos criminosos seriam envolvidos nos episódios de violência do bairro. Sobre o assassinato de Uziel da Hora, a delegada acredita que foi cometido na madrugada, enquanto o descarte foi feito por volta das 4h: "A pessoa não ia descartar esse corpo às 5h", disse a delegada, salientando que, nesse horário, já existe um fluxo considerável de pessoas no local.

No domingo, após o acionamento do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), uma equipe de investigadores e agentes do Núcleo de Inteligência da DH/Atlântico estiveram no local, com o objetivo de ter acesso ao circuito de câmeras de segurança. As diligências perduraram pela madrugada desta segunda, quando, após um Disque Denúncia, a polícia identificou um dos possíveis envolvidos.Questionada sobre o Porto da Barra ter sido palco de um crime tão violento, a delegada afirmou que a criminalidade atinge todos os bairros de Salvador.

 

Informações do Correio* / Foto: Marina Silva/CORREIO

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