28 de Abril de 2024

Plano de mandar na maior empresa privada expõe obsessão de Lula em dirigir economia

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acalenta o plano de emplacar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega – figura central no caso das "pedaladas fiscais" – no comando da Vale, a maior empresa privada do país.

O aparelhamento da administração pública e das estatais são práticas antigas e conhecidas do presidente e de seu partido. O objetivo de retomar as rédeas da Eletrobras, privatizada no ano passado, era alardeado pelo petista desde bem antes das eleições. E, ainda no segundo mandato, Lula já havia feito a mesma pressão para trocar o presidente da Vale.

Mas a persistência da ideia de pôr um aliado à frente de uma empresa privatizada há 26 anos expõe o tamanho da obsessão de Lula em dirigir a economia do país, para bem além de sua crença em um "Estado indutor" do crescimento econômico.

Embora tenha convocado vários petistas e antigos companheiros de sindicalismo para integrar o governo, Lula não pôde encontrar lugar para Mantega. Motivo: por causa das pedaladas, o ex-ministro foi inabilitado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e não pode assumir qualquer cargo em comissão ou função de confiança no âmbito federal por oito anos.

Embora o Ministério Público Federal (MPF) tenha arquivado inquérito civil contra Mantega no caso das pedaladas, a vedação imposta pelo TCU continua valendo, e vai até 2030. Foi ela, aliás, que impediu o ex-ministro de exercer função remunerada na equipe transição de governo, no fim de 2022.

O mandato do atual presidente da mineradora, Eduardo Bartolomeo, vai até maio de 2024. Mas Lula, segundo assessores do Planalto, não queria esperar para fazer valer sua indicação pessoal.

Segundo relatos de bastidores, Bartolomeo é malvisto nos círculos palacianos e petistas por seu comportamento "low profile" – ele seria dedicado demais à empresa em si, com suas metas e resultados, e portanto desconectado dos princípios desenvolvimentistas da esquerda.

Quando o plano – nunca desmentido – de interferir no comando da Vale veio a público, as ações da empresa caíram e arrastaram consigo o Ibovespa, principal termômetro da bolsa brasileira, que fechou o dia em queda diária de 2,1%, com o resgate de R$ 450 milhões por investidores estrangeiros.

Acionistas privados rejeitaram a mudança e classificaram a interrupção do mandato do atual CEO como um "tiro no pé" para a confiança do mercado na empresa e no país. Lula recuou. Segundo assessores, achou que deveria "colocar panos quentes". Mas não desistiu.

Na última segunda-feira (13), o nome de Mantega voltou à tona e a insistência de Lula foi apontada pelo colunista Lauro Jardim, de "O Globo". A reação do mercado não foi diferente. Aliado a problemas do setor imobiliário na China, destino das maiores exportações da Vale, as ações da mineradora caíram 3,1% e o Ibovespa baixou 1,1%.

A reação não se deu apenas pela rejeição ao nome do ex-ministro da Fazenda, profundamente vinculado ao desastre da Nova Matriz Econômica – o conjunto de medidas intervencionistas do governo Dilma Rousseff (PT) que levaram o país a uma grave recessão a partir de 2015.

Mais que a escolha de Mantega, o aspecto mais preocupante, segundo analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, é a tentativa de interferência governamental numa empresa privada.

"Trata-se de uma ingerência indevida numa organização que tem regras de governança corporativa a serem respeitadas e não pode estar sujeita a decisões políticas", alerta o advogado e ex-gestor público Paulo Uebel.

Mais indevido ainda, para o professor Sérgio Lazzarini, do Insper, é o descaso com o modelo de "corporation" da Vale, implantado a partir da privatização da empresa e que prevê a diluição do poder de decisão entre os acionistas.

"O desejo de influência que o governo quer ter numa empresa privada é um retrocesso institucional", diz Lazzarini, autor dos livros "Capitalismo de Laços" e "Reinventando o Capitalismo de Estado".

 

Informações da Gazeta do Povo

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